segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Mãe, sei que estás a ouvir-me

Quero que saibas que o clichet no meu caso aplica-se e que és e sempre serás a pessoa mais importante da minha vida. Sou barro do teu barro e fui sobretudo moldado por ti.

Desculpa não ter estado presente no exacto momento em que decidiste desistir. Quem me dera lá ter estado. Dói-me que tenhas feito a transição em solidão e acredita que se pudesse não teria sido assim.

Resta-me assim agradecer-te hoje aqui, e diante de tantos amigos e familiares, teres-me ensinado os 3 valores mais importantes da vida: o amor, a liberdade e a coragem.

Quem te conheceu sabe que não foste uma mãe convencional. Nunca me deitei na hora a que todas as crianças se deitavam, nunca tinha que comer os vegetais, nunca verificaste os meus trabalhos de casa nem nunca seguiste o meu desempenho escolar. Achaste que essas tarefas funcionais deveriam ser executadas pelo meu pai.

Preferiste mostrar-me a importância de dar carinho aos outros, cuidar deles, decidir com a minha cabeça, não ter medo dos outros, ou do escuro ou do ridículo.

E ensinaste-me a abraçar com coragem a minha individualidade. Mostraste-me Albert Camus e Júlio Diniz e Eça e Camilo e tantos outros clássicos.

Mostraste-me livros de pintura e explicaste-me o belo. Se fosses pintora serias uma expressionista. Pintarias com tons marcados, cores de grande contraste e traços marcadamente fortes.

Se escrevesses serias poeta. De cigarro e copo na mão. Tinhas alma boémia, de noite e de poesia. Amavas os trópicos e ensinaste-me as curvas e as subtilezas da escrita de Vinicius de Morais e de Jorge Amado.

Os teus ídolos eram Elis Regina, Jaques Brel, , e todos aqueles que fossem o retrato de vendavais de emoções complexas, carregadas e sobretudo sem manual de instruções nem travão de mão.

Eras cinturão-negro na arte marcial da intuição. Arma poderosa que dominavas com serenidade e sabedoria e que nos momentos certos usaste para me dar luz e direcção.

Foste tu, sem querer, que me ensinaste que a felicidade não é um dom, nem uma dádiva nem uma lotaria. Mas sim uma conquista. Que recomeça do zero todos os dias.

Antes de subires e encontrares a tua paz, quero que saibas mummy que nunca irei desistir de ser feliz. Que não esquecerei nunca o teu sorriso. E que sempre que tropeçar vou lembrar-me de como te erguias. E que cada vitória minha será sempre tua também.

Mãe, onde estás agora já te permite saber que afinal isto correu bem.

Quando um dia nos reencontrarmos vais ver que te vais orgulhar de mim,

E até lá...olha por nós todos.

E como boa mãe que sempre foste,  olha por mim.


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